O motorista Cleiton da Silva, que trabalha com o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) – ex-relator do processo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara – relatou ao Ministério Público Federal as supostas ameaças feitas ao parlamentar paulista. A TV Globo teve acesso ao depoimento que o motorista concedeu aos procuradores da República no dia 2 de dezembro no município de Jales (SP).
Na última quarta-feira (9), Pinato foi substituído da relatoria do processo de cassação de Cunha por ordem do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), aliado de Cunha e investigado pela Operação Lava Jato.
O parlamentar do PRB havia elaborado um relatório preliminar recomendando a continuidade das investigações que apuram se o presidente da Câmara quebrou o decoro parlamentar. No entanto, apesar de seis tentativas, o relatório prévio sequer chegou a ser analisado pelo Conselho de Ética, em razão das manobras feitas no colegiado pela “tropa de choque” de Cunha.
Ao MPF, Cleiton da Silva detalhou ameaças feitas por dois motoqueiros na cidade de Fernandópolis, no interior de São Paulo, onde reside a família de Pinato. Segundo o funcionário do deputado, a abordagem ocorreu na segunda semana de novembro.
O motorista contou aos procuradores que a ameaça foi feita após ele ter deixado a esposa e a filha do deputado do PRB em casa. Em um cruzamento, relatou Silva, ele foi abordado por dois motoqueiros.
Segundo o funcionário, o caroneiro da moto pediu que ele passasse um recado a Fausto Pinato.
“Pergunte ao seu patrão se ele quer ir para o céu. Se ele não acha melhor colaborar com a situação. Ele tem uma filha linda, uma esposa linda, um irmãozinho lindo. Tem muita gente poderosa por trás da relatoria do seu patrão. Dá esse recado pra ele.
Ele ressaltou no depoimento que não conhece as pessoas que o abordaram no cruzamento e não conseguiria reconhecê-las porque estavam com capacete.
O funcionário falou que, depois do episódio com os motoqueiros, passou a “sentir medo”. Cleiton da Silva disse ter relatado a ameaça a Fausto Pinato no dia 13 de novembro.
Boletim de ocorrência
Fausto Pinato diz ter relatado a suposta ameaça pessoalmente ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes. Ele protocolou pedido no Ministério da Justiça para instauração de inquérito sobre ameaça.
O deputado também registrou um boletim de ocorrência em 19 de novembro na Polícia Civil de São Paulo. A TV Globo teve acesso ao documento.
Aos policiais civis, Pinato relatou que recebeu várias ligações telefônicas em que um “interlocutor diz para que seus familiares (pai, mãe, irmãos, mulher e filha) poderão resolver todos os problemas da vida do interlocutor pois irão do céu para o inferno”.
O boletim de ocorrência também narra outro trecho do depoimento. [O interlocutor] “disse mais, para que a vítima pensasse em si, na sua vida e futuro, para ter cuidado pois havia muita gente poderosa envolvida.”
Conforme a ocorrência policial, Pinato pediu sigilo sobre o episódio por causa da sua atuação parlamentar.
Suspeita de propina
Eduardo Cunha pediu nesta sexta-feira que a Policia Federal investigue a denúncia de Fausto Pinato de que recebeu ofertas de propina enquanto relatava o processo do presidente da Câmara. A informação, revelada nesta sexta pelo jornal “Folha de S.Paulo”, foi confirmada ao G1 pelo deputado do PRB.
Ao relatar as ofertas de propina, Pinato não dá nomes e diz que não sabia se as pessoas queriam que ele votasse contra ou a favor de Cunha. Segundo ele, uma das vezes em que foi abordado para receber, ele estava em um aeroporto de São Paulo.
No ofício dirigido ao ministro da Justiça com o pedido de investigação da PF, Cunha pede ainda, caso não seja comprovada a veracidade da denúncia, que seja apurada a eventual prática do delito de falsa comunicação de crime.
“Nessas abordagens, essas pessoas, que eu não sei quem eram, diziam, fazendo sinal de dinheiro com a mão: ‘Você pode arrumar a tua vida’. Eu já desviava, não dava ‘trela’ para o assunto. Procurei ficar bem reservado”, contou Pinato ao G1.