A vice-procuradora Ela Wiecko Volkmer de Castilho, a número dois na hierarquia da Procuradoria Geral da República (PGR), nesta terça-feira (30/8), pediu exoneração do cargo na Procuradora Geral da República. O pedido acontece no mesmo dia em que a revista Veja divulgou imagens e vídeos dela participando de um ato contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, promovido em Portugal, no mês de junho. Nas imagens, Ela aparece segurando faixa com a frase “Contra o golpe”.
Antes de se demitir, a Procuradora saiu atirando em direção ao Palácio do Planalto. Além de reafirmar que o processo de tramita no Senado é um golpe, Ela Wolkmer perguntou ao repórter da Veja: Mas Temer não está sendo investigado?
O marido de Ela, Manoel Lauro Volkmer Castilho, também pediu exoneração no mês passado, do gabinete do ministro Teori Zavaski, relator da “lava jato” no Supremo Tribunal Federal, depois de assinar um abaixo-assinado no qual juristas defendem o direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorrer ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a atuação do juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da operação na primeira instância. Manoel atuava como assessor técnico no gabinete do ministro.
A verdade é que o casal Volkmer sabe muita coisa nos bastidores do judiciário, tanto na Procuradoria como no STF, e precisam contribuir como cidadãos brasileiros que são, a esclarecer os fatos.
Veja trechos da conversa:
A senhora partilha da opinião de que o processo de impeachment é um golpe?
Eu acho que, do ponto de vista político, é um golpe, é um golpe benfeito, dentro daquelas regras. Isso a gente vê todo dia, é parte da política.
“Como a senhora recebe a repercussão dessa situação? Isso a constrange dentro do Ministério Público?
Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Acho que não foi da melhor forma possível. E pelas coisas que a gente sabe do Temer, não me agrada ter o Temer como presidente. Não me agrada mesmo. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está. Eu não sei todas as coisas a respeito das delações, mas eu sei que tem delação contra ele. Então, não quero. Mas as coisas estão indo”.
A exoneração, assinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve ser publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (31/8). Ela Wiecko vai continuar a atuar como subprocuradora porque o cargo é vitalício. De acordo com reportagem publicada pela revista Veja, Ela Wiecko disse que não via problemas em participar da manifestação. Falou ainda que estava de férias em Portugal, para onde tinha ido para fazer um curso como estudante.
https://www.youtube.com/watch?v=8yI9koPAo8I&feature=youtu.be
NOTA PÚBLICA EM SOLIDARIEDADE A ELA WIECKO
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
Ela Wiecko é uma das maiores autoridades do país na área dos direitos humanos. Sua trajetória, dentro e fora do Ministério Público Federal, é exemplar e digna de gratidão e reconhecimento.
Colaboradora de anos e anos desta Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Ela Wiecko é uma referência em lutas essenciais à nossa democracia: contra o trabalho escravo, pelos direitos dos povos indígenas e quilombolas, pela igualdade racial e de gêneros, pela ética na política.
Uma pessoa cuja sensibilidade social e compromisso com a Justiça são indissociáveis de sua atividade profissional e posicionamento cidadão.
Respeitamos sua decisão de renunciar ao cargo de Vice-Procuradora Geral da República, registrando no entanto a lacuna que se abre na instituição neste momento delicado da vida nacional, com tantos riscos à democracia e aos direitos humanos.
Sabemos que poderemos continuar contando, como sempre contamos, com sua atuação funcional destemida e consequente na defesa dos direitos fundamentais do povo brasileiro.
Deputado Padre João
Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
De Renato Simões*, no Facebook
Não há militante de Direitos Humanos desse país que não tenha uma palavra de gratidão e reconhecimento a Ela Wiecko.
Sua renúncia ao cargo de Vice-Procuradora Geral da República, depois de ter denunciado o caráter golpista do processo de impeachment em curso, é outro episódio dessa vida pela qual devemos agradecer e reconhecer.
Ela Wiecko é uma das mais dedicadas e aplicadas procuradoras da República.
Por sua profunda sensibilidade e compromisso social, Janot teve que destacar em sua nota onde anuncia a renúncia de Ela: “na Vice-Procuradoria-Geral da República, ela foi responsável por importantes projetos na área de direitos humanos, como a criação do Comitê Gestor de Gênero e Raça do Ministério Público Federal e a defesa da legalidade da Lista Suja do trabalho escravo. Também teve atuação de destaque no Conselho Superior do Ministério Público Federal e nos processos junto à Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça.”
Parece muito, mas é pouco ainda para registrar a atividade de Ela pelos direitos humanos e pela ética na política.
Tempos bicudos esses do golpe, em que procuradores coxinhas perseguem partidariamente lideranças e partidos, impunemente, enquanto a opinião de uma Sub-Procuradora Geral da República com tantos serviços prestados gera sua inabilitação para continuar no cargo.
Sua renúncia deve ser oportunidade para uma série reflexão da cúpula do Ministério Público Federal sobre a instituição e sua participação no golpe.
Como disse Ela Wiecko em sua entrevista, tem muita gente no MPF (e na sociedade) que pensa como ela.
#NãoAoGolpe #ImpeachmentSemCrimeÉGolpe #ForaTemer
E viva Ela Wiecko!!!
* Renato é ex-deputado federal pelo PT/SP, com atuação principalmente na área de direitos humanos.
Com informações do Conjur e revista Veja