Um dos melhores cirurgião-dentista da Capital Federal, reconhecido nacional e internacionalmente por seu trabalho em cirurgia bucomaxilofacial e aglossia. Residente no DF desde 1962, Frederico Salles será homenageado pela Câmara Legislativa no dia 04 de novembro próximo, sexta-feira, às 19h, com o título de Cidadão Honorário de Brasília. A solenidade acontece no plenário da Casa.
O Projeto de Decreto Legislativo, de iniciativa de Deputado Wasny de Roure, concedendo o título de Cidadão Honorário de Brasíia ao Dr. Frederico Salles, foi aprovado por unanimidade pelo plenário da Câmara Legislativa e faz justiça ao cidadão Frederico Salles, popularmente conhecido como “Dr. Salles”, baiano que se tornou patrimônio da cidade, integrado ao quotidiano brasiliense há 54 anos
Filho de Francisco Gonçalves de Salles e Beatriz Alves de Assis, com Maria Solange de Freitas, com quem teve três filhas: Beatriz, Emilia e Paula de Freitas Salles (pianista, advogada e tecnóloga em radiologia, respectivamente). Tem dois netos, Bruno e Sofia, com 12 e 9 anos, das 1ª e 2ª filhas. Separou-se de Maria Solange e casou-se com Maria Lúcia Severo, com quem conviveu por 10 anos e não teve filhos. Separou-se de Maria Lúcia e, em 2001, estabeleceu união estável com Ana Maria Cavalini de Melo, enfermeira, com quem não tem filhos, mas um enteado, Cássio Fernando Cavalini Melo de Oliveira, que considera seu filho homem.
Na verdade Salles já se considerava candango muito antes dessa iniciativa do Deputado Wasny de Roure. Veja-se a seguir, trecho de uma entrevista concedida por ele à REVISTA ABO-DF, órgão oficial da Associação Brasileira de Odontologia – seção do Distrito Federal, em 2005:
“Antes de se transferir para Brasília, Frederico Salles esteve na cidade em 1961, a convite do colega e grande amigo Adriano Magalhães Freire, líder de um grupo de cerca de 50 dentistas que atuavam aqui. Viera com três objetivos: conhecer a cidade, participar do 1º Curso de Cirurgia Oral ministrado na nova capital e visitar a Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central, em Uberaba, onde funcionava (e ainda funciona) o Hospital Hélio Angotti, mantido por aquela associação, onde fez mais tarde Residência em Câncer Bucal, área que despertou seu interesse desde o curso de graduação, na Universidade do Brasil. A visita amadureceu sua decisão de transferir-se para a nova capital e perseguir os objetivos de instalar uma clínica, colaborar para o aprimoramento da classe e lutar pela construção de um hospital de câncer”.
“Esse importante personagem da história da nova capital se inclui no grupo dos que vieram atraídos pela proposta de consolidação da utopia de Brasília, tanto que quando viu o sonho ameaçado pelo golpe militar, não teve dúvidas em por em risco a própria vida alistando-se como voluntário para integrar as forças de resistência que se tentou implantar na capital, em 1964.
Dono de disciplina rígida, esse “jovem” senhor surpreende a todos pelo vigor que ostenta aos 85 anos de idade. Considera a aposentadoria uma doença e continua em atividade durante 8 horas por dia. Dorme pouco e aproveita a noite para ler e estudar. Aventureiro e destemido desde pirralho, exercita hoje proezas como voar de parapente, fazer arvorismo, tiroleza, rapel e cavalgada. Já plantou bananeira na neve do “Cerro Catedral”, em Bariloche e enfrentou as piranhas do Rio Guaporé, em Rondônia, ao atravessá-lo a nado para ir ao território boliviano. Está contando os dias para fazer seu primeiro salto de paraquedas.
Senhor de humor contagiante, costuma ironizar, quando indagado sobre sua origem:
– Que origem? Como cidadão brasileiro, vim do Recôncavo Baiano, afeito às agruras e à cultura do massapê. Como Salles minhas raízes são longínquas e se perderam no tempo e no espaço: vêm das bandas de Espanha, via Portugal, onde Francisco Galhardo de Salles, meu ancestral mais antigo, pelo lado paterno, aboletou-se em Lisboa e deu de puxar tanto o saco do Rei D. João II que conseguiu casar seu filho com uma sobrinha de sua majestade e torná-lo Marquês de Montemor, o poderoso senhor das Quintas de Gaya. Talvez seja por isso minha aversão ao puxa-saquismo. Não tenho porque me orgulhar desses ancestrais. Teria preferido descender de algum peão africano ou rei nagô, por eles escravizados.
“Na verdade, me considero cidadão de Brasília”, afirma, porque nasci em Santo Amaro – BA e lá vivi 17 anos. Fui para o Rio de Janeiro onde vivi mais 13. E vou completar 54 anos de Brasília. Cheguei aqui ao anoitecer do dia 18 de outubro de 1962, de carona, na garupa de um caminhão cargueiro. Meu ônibus enguiçou em Paracatu-MG e passei a noite na estrada. Às cinco horas aquele motorista apiedou-se de nós, eu e minha primeira esposa, Maria Solange, e nos ofereceu carona. Ela se acomodou na única vaga existente na cabine e eu, com os peões, no lombo de 12 toneladas de cimento, sob o escaldante sol desse Planalto Central. Depois de oito horas de viagem, chegamos à terra prometida. Eu, queimado como telha, com sinais de desidratação, fui obrigado a me manter acamado por dois dias “.
Salles lembra que quando teve oportunidade de observar o horizonte, que podia ser visto, quase simultaneamente, nos quatro pontos cardeais, extasiou-se com a amplidão e se sentiu como um animal de experimento, aprisionado pela imensa campânula azul dos céus de Brasília. Mas não se arrependeu de ter vindo servir de cobaia da experiência da nova capital.”
Terminada a “Residência em Câncer Bucal”, Salles iniciou suas atividades profissionais em Brasília. Mas esse início do exercício profissional só foi possível graças à solidariedade de outro pioneiro que chegara três anos antes: Adriano Magalhães Freire lhe ofereceu, graciosamente, metade de um expediente em sua clínica, na Quadra 505 da Av. W-3 Sul, além de uma fatia de seus pacientes do INPS, atual SUS. Esses pacientes transformaram-se em marqueteiros e em pouco tempo sua clientela se tornou robusta, com a presença maciça da classe médica, de professores da UnB, empresários, deputados, senadores, um presidente da república e familiares, e personalidades como Cláudio Santoro, Darcy Ribeiro, Aloysio Campos da Paz, João Sayad, José Serra e Roberto Salmeron, que ele conhecia através de seus teoremas, estudados para o vestibular da Universidade do Brasil.