No diálogo, Fraga questiona interlocutores sobre o valor dos repasses. Segundo o Ministério Público, essas cifras se referem a propina paga por cooperativas, no processo de substituição das vans por micro-ônibus. A defesa de Fraga nega as acusações.
Em um dos áudios obtidos pela TV Globo, segundo o MP, Alberto Fraga questiona porque estaria recebendo valores menores que seu assessor à época, o subsecretário Júlio Urnau. O interlocutor é identificado pelo Ministério Público como Jefferson Magrão, representante do político junto às cooperativas. A TV Globo não conseguiu contato com as defesas de Urnau e Magrão.
Alberto Fraga: Agora tá explicado, as coisas acontecendo e eu com cara de babaca aqui, entendeu? E o cara, você veja, o cara ganhou com isso aí, o que é que acontece? Ele, ele ganhou muito mais dinheiro, vamos dizer assim, do que o próprio secretário.
Jefferson Magrão: Deitou e rolou.
Fraga: Deitou e rolou. É por isso que o Arruda, constantemente, me dá uma ‘espetada’.
A denúncia
A operação Régin foi deflagrada pelo Ministério Público e pela Polícia Civil do DF em 2011. Citados no inquérito, Fraga, Urnau e o ex-assessor José Geraldo de Oliveira Melo são acusados por organização criminosa e concussão – quando um agente público exige vantagem própria para realizar uma contratação.
Segundo o inquérito, o grupo chegou a receber mais de R$ 800 mil de uma única cooperativa, a Coopatag. Na época, a entidade conseguiu uma decisão judicial para retornar à licitação, depois de ser considerada “inabilitada” para o contrato. Mesmo com a sentença em mãos, a Coopatag teve de pagar propina para voltar a concorrer, diz o MP.
O valor de R$ 800 mil – supostamente reajustado para cima pelo próprio Fraga – teria sido pago em três parcelas, entregues no Aeroporto JK, no Jardim Zoológico e no Núcleo Bandeirante. De acordo com as investigações, a Coopatag só voltou para a disputa da licitação quando a primeira parte do valor já tinha sido paga.
A denúncia contra Fraga foi apresentada ao Tribunal de Justiça do DF em 2011. Em 2014, quando ele foi eleito deputado federal e ganhou foro privilegiado, o processo “subiu” para o Supremo Tribunal Federal. A ação penal está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, mas ainda não foi julgada.
Intimidação
Segundo o inquérito, Fraga também intimidou representantes de cooperativas, na tentativa de entender a suposta propina recebida por Júlio Urnau. Em outro áudio, o deputado conversa com Magrão e o então presidente da Associação das Cooperativas de Ônibus do DF, Fontidejan Santana.
Na conversa, Fraga pergunta a Santana sobre um repasse de R$ 1,5 milhão que teria sido feito a Júlio. Em resposta, ouve que o valor real era ainda maior, de R$ 1,7 milhão.
Fraga: Bem, eu acho que… tem um tititi danado, né, na cidade e aí talvez (…) existe os comentários. Mas o que me disseram, Santana, é que você teria dado pro Júlio um milhão e quinhentos mil reais.
Santana: Hunrum.
Magrão: E aí?
Santana: E não foi só eu que dei, né?
Magrão: [Repete] E não foi só eu que dei.
Ouve-se risos ao fundo, e um dos envolvidos fala: “Isso, eu gostei de ver”.
Fraga: Aí, aí é que tá. Mas aí, o outro seria então o Noel. Diz que o Noel deu um milhão e setecentos?
Magrão: O [Manco].
Santana: Eu num sei quanto é que ele deu, mas…
Magrão: O [Manco], o [Manco deu].
Fraga: Agora, Santana, como é que você, sabendo o meu jeito de ser, como é que você entra numa dessa?
Santana: Você não estava aqui. Você não estava aqui. Se você estivesse aqui, eu num teria feito. Eu tinha vindo aqui conversar, você não estava.
Magrão: Você se lembra aquela vez que o Santana pagou… quando nós entramos na licitação, o Santana num pagou um milhão e setecentos, foi? Foi um milhão e setecentos. Um milhão e setecentos que ele depositou e depois num conseguiu o resto e o dinheiro ficou preso?
A defesa de Fraga
O advogado de Fraga no processo, Everardo Alves Ribeiro, afirma que as gravações não tratam de propina. Segundo ele, os áudios mostram o atual deputado federal indignado com as suspeitas de que o secretário-adjunto Urnau estivesse recebendo dinheiro das cooperativas.
“Ele, indignado e ao mesmo tempo em tom jocoso, chega a fazer essa afirmação. Mas não para denotar que estaria participanto de vantagem ilícita, e sim por indignação. [No sentido] De ‘como eu, secretário, entraria num esquema de corrupção para um subordinado ganhar mais que eu?’. É absurda a ilação, até por isso”, declarou à TV Globo.