Ouvidos pela Polícia Federal, servidores de carreira do Ibana, na Operação Akuanduba, que investiga o envolvimento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em crimes ambientais, afirmaram, em depoimento, que o órgão vem sofrendo uma espécie de desmonte desde que Salles e Eduardo Bim (presidente do Ibama) assumiram os cargos. Um dos funcionários públicos ouvidos pela PF é um analista ambiental, que denunciou, entre outras irregularidades, a militarização do órgão.
Segundo ele, várias funções que eram antes exercidas por funcionários de carreira do órgão passaram a ser de militares – em especial, integrantes da Polícia Militar de São Paulo. O servidor disse acreditar que os policiais tenham sido indicados para o Ibama devido ao fato de Salles ter um histórico de proximidade com a PMSP. O ministro exerceu as funções de secretário particular e do meio ambiente no governo de Geraldo Alckmin, onde foi acusado de irregularidade.
O depoente cita que um ex-integrante da PMSP, conhecido como “Coronel Walter” — referindo-se a Walter Mendes Magalhães Junior —, foi o responsável por assinar as certidões que supostamente acobertavam as cargas de madeira ilegal da Tradelink Madeiras. O PM passou pela superintendência do Ibama no Pará e deixou o cargo — sendo substituído por outro PM de São Paulo — para ser coordenador-Geral de Fiscalização, em 2020. Walter foi posteriormente exonerado por Salles no mesmo ano.
“Diversos postos-chaves do Ibama estão nas mãos de militares que não apenas foram nomeados pelo Ministro Salles, mas, aparentemente foram escolhidos por ele para exercer tais funções”, diz outro trecho do relatório. A PF detalha ainda que o servidor, que falava pela segunda vez, alegava ter sofrido represália dentro do Ibama depois de prestar seu primeiro depoimento, um mês antes. Ele contou que foi removido de uma unidade a outra do Ibama de forma arbitrária, sem levar em conta procedimentos necessários, como a anuência do servidor.
“Acredita que a remoção foi realizada em represália à atuação do depoente durante os trabalhos relacionados a exportação ilegal de produtos florestais”, detalha a PF.
No relatório, a PF indica que as informações colhidas “sinalizam fortemente para a existência, naquela ocasião, de grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais, envolvendo autoridades de diversos níveis do Ibama, dentre eles, destacadamente, o próprio presidente órgão (Eduardo Bim)”. E continua: “Mais que isso: esses mesmos elementos até então reunidos, a nosso ver, apresentam, também, fortes indícios de envolvimento do atual Ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles”, concluiu.
Com informações do CB