De Boston – Desde o fim da semana passada, o Brasil tem sido diariamente manchete e motivo de comentários em vários jornais e blogs que circulam nos Estados Unidos. Tem noticias positivas, como as vitórias do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva na justiça por falta de evidências em processos (incluindo a suspeição do ex-juiz ministro Sergio Moro) em que ele era acusado de corrupção.
A repercussão da manifestação popular “Fora Bolsonaro” no dia 19 de junho em vários estados e por brasileiros residentes em vários países (protestando contra o presidente Jair Bolsonaro como o responsável por essas mortes por uma política deliberadamente genocida) também inundou páginas da imprensa estadunidense e internacional, mostrando 750.000 manifestantes nas ruas–mais que as 300 mil motos em São Paulo na semana passada apoiando o presidente. Ou seja, uma pessoa e meia para cada brasileiro morto por Covid-19 (cujo montante ultrapassou 500 mil).
Le print publicou o cartoon de Carlos Latuff, divulgado no Twitter, como o melhor cartoon da semana. O drawing registrou o momento em que o Brasil ultrapassou o número de meio milhão de mortos por Covid-19. Uma matéria com a criadora de conteúdo afro e de comunicação digital brasileira de Recife, Dandara Pagu, apresentando ela como novo ícone do app Clubhouse também dá um tom de esperança de que a democracia brasileira ainda pode ser retomada.
Mas o país tropical novamente amanheceu hoje em destaque no noticiário da imprensa estadunidense com a queda do ministro do meio ambiente Ricardo Salles, envolvido em investigação de extração ilegal de madeira na Amazônia. A pasta do meio ambiente estava em evidência também com as suit news sobre o congelamento das negociações entre os Estados Unidos e o Brasil a cerca do repasse de fundos ao país verde e amarelo para medidas de contenção do aquecimento da terra. A paralisação das negociações, quase dois meses após a cúpula do clima do presidente Joe Biden, coincide com o aumento do desmatamento na Amazônia ––fato que também vem acompanhado de notícias sobre o tom de preocupação por parte do mundo financeiro. ––e a operação da Polícia Federal que deflagrou a saída do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O ataque de bomba de gás lacrimogêneo aos indígenas que foram a Brasília protestar contra a PL de demarcação de terras também repercutiu negativamente na imprensa estadunidense ainda que os Estados Unidos não seja exemplo de país que melhor tratou a sua população nativa. Uma das maiores redes de noticias, a NBC, repercutiu que Bolsonaro deveria ser julgado por crimes contra a humanidade, como requerem os líderes indígenas.
Já a bomba do contrato de compra superfaturado da vacina Covaxin na Índia explodiu desde o fim de semana passado e continua em destaque. Ver também
Brazil prosecutors probe price, intermediary on Bharat vaccine deal -WHBL News
Brazil probes Health Ministry deal to buy Covaxin vaccine – Associated Press
Corrupção e Crise Sanitária
Mas o país tropical tem aparecido muito mais negativamente aos olhos dos estadunidenses por conta das noticias de enxurrada sobre a crítica situação sanitária do país, o mau comportamento e descaso do presidente Bolsonaro em relação ao Covid-19 e noticias de corrupção na compra de vacinas com prevaricação do presidente da República. De goleada foram as noticias da virada do meio milhão em mortes no país pelo coronavirus como um dos índices mais altos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia;
Acessar Brazil reported one of the highest Covid death tolls in the world. – The New York Times
Covid: Brazil hits 500000 deaths amid ‘critical’ situation – BBC News
Brazil passes half a million COVID-19 deaths, experts warn of worse ahead – Reuters
Brazil official says he warned Bolsonaro over pressure to buy Bharat vaccine
Noticias sobre a Copa América também foram repercutidas de maneira negativa. A imprensa espanhola nos Estados Unidos enfatizou a minimização da pandemia pelo presidente Bolsonaro referindo a sua responsabilidade por sediar a Copa América no país apesar do número elevado de casos e mortes por Covid-19 e a contaminação pelo coronavirus de até então mais de uma centena e meia de membros de alguns países pelo coronavirus.
A imprensa também fez comparações entre a China e o Brazil comentando que enquanto a primeira nação atingiu um bilhão de pessoas vacinadas contra o virus nesta semana, a segunda vacinou apenas 11 por cento de sua população e atingiu um marco histórico de meio milhão de mortes por Covid-19.
A multa que o presidente da república recebeu da Prefeitura de São Paulo por violar restrições da pandemia – o uso de máscara em ambientes públicos––durante a motociata que ele participou virou também notícia nos Estados Unidos.
Testando resiliência
Outros registros pela inprensa que circula no país norte-americano demonstrando que o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores vem testando a resiliência dos individuos e das instituições brasileiras ao atacar as liberdades de imprensa, de expressão de idéias e individuais são:
Repercussão de fake news espalhadas por bolsonaristas no estilo trompista––eles espalharam que Lula só seria eleito em 2021 através de fraude–– após Lula chamar Bolsonaro de “genocida”.
O mau comportamento e agressões do presidente Jair Bolsonaro à imprensa brasileira, mandando uma repórter calar a boca por ter questionado sobre sua frequente recusa em usar uma máscara e chamando “ o maior conglomerado de mídia do país”, Grupo Globo, de shi ** y”. Não há nada que o norte-americano mais odeie que a falta de polidez entre pessoas que tiveram acesso a escolaridade.
Na linha de agressão às liberdades individuais, o diretor executivo da NGO canadense Rainbow Railroad, Kimahli Powell, disparou que o Brasil não é um lugar seguro o suficiente para pessoas LGBTs viverem. Ele referia ao evento virtual organizado por entidades do Paraná na semana passada, que foi interrompido por ataques de pessoas racistas e homofóbicas gritando “Bolsonaro 2022”. Powell declarou que o governo e a própria pessoa de Bolsonaro é uma das principais preocupações da NGO que ele dirige. “Quando um agente do estado, seja um policial, seja o chefe de estado, como é o caso do Brasil, fala contra pessoas LGBT, isto gera perseguição.”
Apesar de ter se abstido do voto para continuar o embargo contra Cuba, Brasil apareceu também essa semana no noticiário como um dos países que acompanhou Israel no veto da resolução do conselho da ONU durante a reunião de 2019.
Desesperado com a falta de popularidade que acusam as pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro tentou minorar a situação apelando para os pobres. Ele aparece na imprensa norte-americana de hoje pedindo aos supermercados que baixem os preços, “enquanto eles mal sobrevivem”, diz The Washington Post.
E, para lembrar os velhos tempos em que se dizia que no Brazil tudo acabava em samba e futebol, a vitória do Brasil sobre a Colômbia na Copa América também entrou no rank das noticias sobre o Brasil que circularam nos últimos dias nos Estados Unidos, com foco nas controvérsias.