CÉSAR FONSECA – A economia brasileira está vivendo ao sabor dos descaminhos que estão seguindo a política macroeconômica americana, em 2024, com reflexos perigosos sobre o tripé neoliberal (metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávit primário).
O Banco Central dos Estados Unidos, que dá as cartas para todos os bancos centrais no mundo ocidental, inclusive BC brasileiro, está agindo de maneira instável, no cenário eleitoral americano, de combinação volátil entre guerra imperialista com financeirização econômica globalizada.
O chefão do BlackRock, Larry Fink, maior fundo de investimento do mundo, que, atualmente, manda e desmanda na política da Petrobrás, como maior representante dos acionistas privados, diz que logo, logo haverá tremores mundiais por causa do tamanho descomunal da dívida pública americana, de 30 trilhões de dólares, por aí.
Os juros, que o FED promete – mas não cumpre – abaixar, vão ou não desvalorizar a moeda americana, se a dívida pública dos Estados Unidos não para de crescer?
No ambiente global de guerra que o Pentágono cuida de alimentar, a resposta é uma incógnita, quanto mais o império americano vai perdendo gás para os BRICS, para a força unida da Rússia(militar) e China(comercial), com avanço do sul global e instabilidade do norte, afetado pela derrota da Ucrânia e da Otan, para os russos apoiados pelos chineses.
Se a dívida americana, como alerta especialistas, tende a crescer, levando o Congresso americano às posição cada vez mais conservadoras, o mercado que compra os títulos, temeroso do risco crescente, exigirá, sempre, juro mais alto.
O preço do juro é o risco.
Por aí, o FED terá dificuldade de diminuir a taxa básica, como tem prometido, mas, sempre, adiando, parecendo que está sem controle da situação.
REFLEXO NO BRASIL
Se o tripé neoliberal balança como fica a economia brasileira?
Aumenta a instabilidade com o jogo de empurra que afeta as políticas monetárias dos países da periferia capitalista, como o Brasil.
Não se tem certeza quanto à saúde da moeda, especialmente, se o FED diz que a qualquer momento, sem precisá-lo, retoma redução das taxas, se o mercado está temeroso, como alerta o chefão do Black Bloc.
Na verdade, nem este sabe direito o que vai acontecer.
Haveria deslocamento do capitalismo cêntrico da periferia capitalista, se o tripé se esfacela?
Portanto, não é o mercado interno, no Brasil, que a voz oficial diz estar estável, que dá o rumo dos acontecimentos.
Ao contrário, a instabilidade internacional constante é que leva o FED a conjecturar, permanentemente, tentativas de evitar desvalorização do dólar, que levaria à fuga de capital dos Estados Unidos.
Livre do tripé, se esse perde gás, a economia brasileira, ancorada em reservas cambiais fortes, na casa dos 350 bilhões de dólares, ficaria mais forte ou mais fraca?
BRASIL RESISTENTE AO NEOLIBERALISMO
A espada de Dâmocles do FED continuaria como ameaça irresistível para atrair para os Estados Unidos a poupança financeira internacional, de modo a manter a rentabilidade dos financistas em alta, ou favoreceria os interesses nacionais?
O fato é que a moeda americana, no ritmo do balança, mas não cai – até quando ninguém sabe –, já está afetando o que se julga estabilidade segura, qual seja, o tripé econômico neoliberal – câmbio flutuante, metas inflacionárias e superávit primário.
O tripé entraria na sua fase de instabilidade, não por conta da política econômica lulista, mas pelas incertezas decorrentes da política monetária americana.
O presidente Lula e seu timoneiro econômico, ministro Fernando Haddad, da Fazenda, estão sob instabilidades determinadas pelo arcabouço fiscal e monetário negociado com a Faria Lima, conectada, umbilicalmente, por sua vez, com Wall Street/FED.
Mas, e se o tripé for para o espaço diante da conjuntura adversa para os Estados Unidos para a qual alerta o chefão do Black Rock?
Nada está estático, mas dinâmico, no cenário da financeirização especulativa, sujeita a mudanças, na linha da pregação hegeliana de que “tudo muda, só não muda a lei do movimento segundo a qual tudo muda”.
Se o FED americano atua sob pressão dos fundos financeiros internacionais, no cenário da financeirização, quem está com a razão é o chefão do Black Rock – tudo pode mudar.
TRIPÉ NEOLIBERAL NA BALANÇA
Assim como o câmbio flutuante pode mudar, se o FED sustenta juro alto, enrijecendo as relações cambiais globais, da mesma forma, a outra ponta do tripé neoliberal, a meta inflacionária, também, mostra descoordenação, diante da instabilidade dos preços financeiros(juro selic), incidentes sobre a dívida pública, que leva a inflação de alimentos básicos ao descontrole e à consequente insatisfação popular.
Por fim, a última ponta do tripé neoliberal, igualmente, mostra-se frágil: o superávit primário (receitas menos despesas, exclusive pagamentos de juros e amortizações da dívida pública) torna-se impossível de ser mantido ou alcançado, se o presidente Lula for obrigado(se tiver força) a forçar a barra para elevar gastos sociais, dando freada nos gastos financeiros, abrindo divergências com Faria Lima.
Radicalizaria contra o BC, forçando-o a cortar Selic, como alternativa para elevar a circulação de dinheiro na economia, sem a qual ela fica sem ar para respirar etc.?
O fato é que a conjuntura neoliberal vai entrando em contradição com o ajuste fiscal e monetário, se o governo precisa acelerar mais a produção para elevar emprego, renda, consumo, arrecadação e investimentos, para ganhar eleição.
A base política está sem gás: os municípios, com a renda salarial seca, para girar negócios e arrecadação, estão sem recursos para pagar os empresários que vendem para eles mediante empenhos nas licitações.
Os governos estaduais, idem, força o ministro da Fazenda a renegociar suas dívidas, pois, sem recursos, governadores e prefeitos enfrentarão eleições completamente fragilizados.
FREIO NO RENTISMO?
O perigo, portanto, é Lula não alcançar maioria dos prefeitos, base eleitoral indispensável para ganhar eleição presidencial em 2026, afetada pela ortodoxia monetária fiscal e monetária em vigor que mantém gastos sociais engessados, para que possam sobrar recursos financeiros necessários à quitação de juros e amortizações da dívida pública sobre acumulada pelo juro selic extorsivo.
Fim do tripé desengessa ou não o neoliberalismo ortodoxo?
O tripé econômico neoliberal, nesse sentido, está ou não no limite de suas forças, para sustentar o monetarismo especulativo que não deixa o país crescer sustentavelmente?
Se o efeito externo ditado pela política monetária americana de sustentar juro alto, na casa dos 5,5% ao ano, um recorde histórico, para os Estados Unidos, não for atenuado e prevalecer previsões mais pessimistas como as que estão sendo feitas pelos fundos financeiros que ditam a política monetária americana, no cenário da financeirização, o governo Lula sobre baque.
Poderá ir abrindo chances, cada vez maiores, para a direita voltar ao poder, com a base bolsonarista fortalecida, se a economia não reagir, para além da retórica governista, cercada por um Congresso direitista anti lulista.
https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2024/04/a-atuacao-do-banco-central-no-cambio-e-natural-e-nada-se-parece-com-intervencoes-do-passado-entenda.ghtml