Líbia passou por “recolonização”, diz jornalista brasileiro barrado no país

Publicado em: 16/11/2011

Especial para o UOL Notícias – Fabíola Ortiz – No Rio de Janeiro (RJ)  Em agosto deste ano, o jornalista Mário Augusto Jakobskind integrou uma delegação brasileira que viajaria à Líbia com o objetivo de fazer um relatório sobre a situação do país, em meio à revolta contra o regime do ex-ditador Muammar Gaddafi. O agravamento da situação no país, sob intervenção da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), acabou impedindo a entrada do grupo, que não conseguiu cruzar a fronteira da Tunísia com a Líbia.

Mesmo frustrada, a experiência rendeu um livro lançado pelo jornalista na sexta-feira (11): “Líbia: barrados na fronteira – O que não saiu na mídia sobre a invasão da Líbia”. E também deixou impressões no autor sobre o país que agora desenha seu futuro pós-Gaddafi – o ditador foi morto no final de outubro, em uma ação que contou com a participação da Otan e dos rebeldes. Para Jakobskind, a democratização da Líbia foi apenas um “pretexto” para que forças ocidentais lucrem com a reconstrução do país.

População carrega pertences de prédio destruído na cidade devastada de Sirte. Na Líbia pós-Gaddafi, o debate atual é sobre como reconstruir o país após mais de quatro décadas de ditadura Mais Philippe Desmazes/AFP “Você acha que a democracia se estabelece com bombardeios da Otan? A democracia é pretexto, a Otan encerrou seus trabalhos no dia 31 de outubro, parou de bombardear, mas as empresas italianas e francesas vão conseguir lucrar mais ainda na reconstrução”, disse o autor, em entrevista ao UOL Notícias.

“O que houve na Líbia foi um processo de recolonização que remonta ao século 19. O primeiro bombardeio na história foram os italianos na Líbia. Ela pertenceu ao império otomano durante séculos, e a Itália tomou dos turcos. A Líbia também foi um protetorado da ONU tornando-se independente com o rei Ídris, em 1951”, completou.

Jakobskind considera que falar sobre um possível regime democrático em território líbio pode ser apenas “jogo de marketing político” e destaca a importância da economia para determinar o futuro da Líbia. “É um jogo de marketing político de democracia, quem vai dominar o pedaço vão ser as potências da Europa como França e Itália, e também os EUA. Eles (líbios) não conhecem o conceito de democracia como nós conhecemos. Para eles, o padrão de vida é um marco, agora resta saber se o padrão de vida vai continuar o mesmo, aumentar ou diminuir, isso é o que vai determinar”. Além do contexto histórico do conflito na Líbia, o autor também aborda no livro o que seria o papel da rede terrorista Al Qaeda.

“É muito estranho que uma organização como a Al Qaeda tenha participado junto com a Otan na luta contra Gaddafi”, diz. A viagem interrompida em agosto não foi a única que o jornalista tentou fazer à Líbia. Ele conta que, em 1998, havia uma previsão de a seleção brasileira de futebol jogar naquele país. Ele acompanharia a partida, que acabou sendo cancelada.

“Agora, 12 anos depois, também não consegui entrar”. A nova tentativa foi iniciada em São Paulo, no dia 14 de agosto, e encerrada na capital tunisiana, Tunis, de onde o grupo seguiria de carro até a Líbia, que estava com o espaço aéreo fechado. “Se a gente tivesse chegado 24 ou 48 horas antes, nós teríamos entrado, mas não iríamos conseguir sair. As estradas estavam sendo bombardeadas, a única passagem que levava a Trípoli estava sob forte combate”.

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