Caiu mais uma peça ligada a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Nesta quarta (04) Eliane Gonçalves Pinheiro, chefe de gabinete do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) renunciou ao cargo, após acusação de que o contraventor usava sua rede de policiais para obter informações sobre operações da PF e passava esses dados para ela. Já Perillo disse por meio da assessoria, que desconhece qualquer relação entre sua chefe de gabinete e o bicheiro.
Eliane confirmou que conhece Carlinhos desde 2003, mas negou que tenha recebido um Nextel. Segundo ela, o amigo Wladimir Garcez lhe emprestou um aparelho quando ela fez uma viagem ao exterior. Garcez é ex-vereador e também integra o esquema de Cachoeira, segundo a PF.
A ex-chefe de gabinete afirmou na carta de exoneração que a Eliane que aparece nas gravações não é ela, e sim outra pessoa. “Fui também vítima de um grande equívoco pela coincidência do meu nome com o de uma outra Eliane, que desconheço, e que protagoniza conversas telefônicas grampeadas na investigação”, disse a ex-assessora por carta. Porém, no relatório da PF constam o nome e o CPF dela.
Ainda na carta escrita por Eliane, ela afirma que se afasta do cargo porque não pretende colaborar para “transformar o governo do Estado, a que servi com dedicada abnegação, em alvo de especulações da mídia”. A ex assessora de Perillo considera-se vítima da imprensa, que insiste em envolvê-la no caso que classifica como “histeria coletiva” e usa o mesmo argumento que Demóstenes Torres (sem partido), de que sofreu pré-julgamento. “A imprensa foi implacável e de todas as maneiras tentou me envolver, destacando as suas suspeitas em letras garrafais, no alto das páginas, e só corrigindo, após os meus esclarecimentos, em letras miúdas, em um canto qualquer das edições”.
Operação Apate – O relatório da Operação Monte Carlo aponta a troca de telefonemas entre Eliane e o bicheiro. De acordo com a PF, ela também foi presenteada com telefone antigrampo habilitado nos Estados Unidos. Cachoeira também repassava informações sobre ações da PF à construtora Delta.
Numa das conversas, Cachoeira fala com Eliane sobre uma ação desencadeada no dia 13 de maio de 2011 com o nome de Operação Apate, para combater um esquema de fraudes contra a Receita Federal nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Pará e Minas Gerais. Durante a conversa, o bicheiro pergunta a Eliane se ela falou “pro maior”, mas não se sabe se ele se referia a Perillo.
Além de telefonemas, os dois trocaram mensagens de texto sobre o assunto. Em 12 de maio de 2011, ele avisa a Eliane por mensagem que “vai ter busca na casa e prefeitura. somente busca”. Em outra mensagem, o bicheiro aconselha: “pede a ele que tire as filhas de lá”. Eliane responde: “elas estão na casa dele em Taguatinga. Vc. acha q eles vão procurar lá tbem? Ele tem as duas residências”, ao que Cachoeira retorna dizendo que acredita que não e cita os municípios Uruaçu e Minaçu, onde deveriam se desencadear as ações da PF.
Na operação Apate, foram expedidos 82 mandados de busca e apreensão e 13 mandados de prisão. A Receita Federal havia identificado indícios de que havia informações falsas sobre retenções do imposto de renda em Declarações do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), apresentadas por prefeituras e outros órgãos municipais, com um prejuízo estimado de R$ 200 milhões aos cofres públicos.
Delta – O relatório da aponta ainda que Cachoeira também repassou informações de ações para Cláudio Dias Abreu, ex-diretor da construtora Delta em Goiás. Em conversas interceptadas, Abreu recorreu ao contraventor para se proteger de eventual investigação sigilosa da PF. Integrantes da organização conversam também sobre movimentação financeira supostamente irregular da empresa.
No dia 14 de julho de 2011, Abreu ligou para Cachoeira, pedindo informações sobre uma operação que a PF faria no Pará e se resvalaria na Delta. Cachoeira disse que se houvesse reflexo, um dos delegados ligados a ele já teria vazado a informação. Já em outros diálogos, há conversas que fazem referências a suposta lavagem de dinheiro, através de fornecedores da empreiteira.
O presidente do conselho da Delta, Fernando Soares, negou qualquer vínculo da empresa com Cachoeira, através da assessoria de imprensa. Ainda segundo informações da assessoria, Cláudio Dias Abreu foi afastado da empresa no dia 8 de março, uma semana depois da deflagração da operação. “A Delta Construção está em atividade há 50 anos. Tem uma longa tradição no mercado de construção civil e hoje figura entre as sete maiores e mais respeitadas empresas do setor”, informa a assessoria.