Brasileiros nos EUA miram Biden para assegurar a democracia no Brasil

Publicado em: 16/04/2021

Boston– A rede de brasileiros e não brasileiros acadêmicos e ativistas residentes nos Estados Unidos em defesa da democracia no Brasil––USNDB––decidiu mudar a estratégia de ação em defesa da soberania popular brasileira. Em conferência que começa hoje à noite online,  a organização vai avaliar as atividades que tem desenvolvido ao longo de dois anos e meio de sua criação e traçar novas estratégias de ação.

A terceira Conferência Nacional da U.S Network for Democracy in Brazil será realizada hoje (16) e amanhã (17), sábado. A Conferência abre às 19h tendo como palestrante principal, Paulo Abrão, ex-Diretor Executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. Amanhã haverá reuniões de diferentes grupos de trabalho da rede, e workshops sobre diversos temas. Em seguida, os participantes se reúnem em em assembleia geral para planejar atividades durante o exercício de 2021. Uma delas, sensibilizar o presidente Joe Biden para o terreno perigoso que ele pisa ao abrir negociações com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, um conhecido adepto de práticas que não condizem com o discurso democrático de campanha e de posse do presidente democrata dos Estados Unidos.

Só neste ano, três contundentes documentos produzidos e enviados pela USNDB e ou entidades parceiras para a administração Biden com repercussão na imprensa incomodaram bastante o presidente brasileiro. O primeiro foi um documento de trinta páginas denunciando graves violações de direitos humanos no Brasil. O documento contém uma análise sobre a situação de vulnerabilidade de grupos sociais em relação a direitos humanos (indígenas, afro-brasileiros, mulheres, LGBTQI+ e movimentos sociais) e principais áreas sociais de risco a requerer políticas democráticas de ação (democracia sob a forma da lei, mudanças climáticas, desmatamento, política econômica, acordos da base espacial de Alcântara, segurança, saúde pública, religião e trabalho).

O segundo documento constitiuiu uma carta assinada por doze deputados federais do Partido Democrata progressista da Câmara estadunidense e enviada ao embaixador daquele país no Brasil, Todd Chapman. Na carta, os parlamentares expressaram profunda preocupação com a situação da comunidade indígena brasileira Munduruku, vítima de grilagem e violência na Amazônia a exigir proteção internacional.  O terceiro foi uma carta enviada pela Human Rights Watch ao Ministro do Meio Ambiente dos EUA, John Kerry, denunciando crimes ambientais cometidos por Bolsonaro, responsabilizando-o por apoio ao desmatamento na Amazônia e a crise ambiental brasileira a requerer que os EUA assumam o protagonismo na deflorestação global. A carta foi endossada por senadores progressistas incluindo o ex-presidenciável Bernie Sanders e enviada para o presidente Biden urgindo que o mesmo “enquadre” o governo brasileiro a condições no caso de repasse de auxilio financeiro com o objetivo de proteção ambiental.

Outros exemplos de que as estratégias de ação da rede norte-americana vêm se aguçando são os últimos protestos ocorridos recentemente em Nova York. Além de pedirem o impeachment do presidente brasileiro da República Jair Bolsonaro, o Defend Democracy in Brasil de Nova Iorque, uma das diversas organizações sediadas em diferentes cidades dos EUA associadas à rede nacional com sede em Washington, buscou atrair a atenção do presidente Biden para a situação catastrófica no Brasil, a exigir que os Estados Unidos e as potências internacionais do grupo G-20 ajam para impedir os atos criminosos do regime do governo Bolsonaro contra o povo brasileiro, em relação à disseminação do virus Covid-19.

A situação de saúde no Brasil é caótica. São quase 400 mil mortos no Brasil e quase 4 mil mortes diárias durante um mês por conta da pandemia provocada pelo coronavirus que assola o mundo. No Brasil, a pandemia assume uma característica peculiar por conta do negacionismo à ciência que o governo tem assumido, com a falta de controle e empreendimento de ações que estimulam a propagação do virus Covid-19. O sistema de saúde entrou em colapso em 23 dos 27 estados. Cientistas de todo o mundo estão preocupados com a disseminação de novas variantes do coronavirus e com o ritmo lento das vacinações no país, tornando o país o epicentro da pandemia no mundo. A resposta do presidente Bolsonaro até agora tem sido a minimização da gravidade da pandemia, com cortes sistemáticos nos investimentos no setor de saúde pública, disseminação de notícias falsas e inação, distribuição em massa e promoção de tratamentos com eficácia proibidos pelas comunidades médicas internacionais, falta de auxílio financeiro aos mais pobres, e atrasos na aquisição de vacinas apontando para o cenário de genocídio.

Vestido em “pele de cordeiro”, Bolsonaro tem respondido a essas ações de pressão social com promessas de “bom moço” dirigidas ao presidente Joe Biden, a exemplo da recente carta em que ele “promete” acabar com o desmatamento ilegal. Ao mesmo tempo em que seu governo persegue e ameaça cientistas e demite funcionários públicos que denunciam o tráfico de madeira.  Além disso, a imprensa recentemente descobriu que o governo Bolsonaro vem mantendo negociações por debaixo do pano com o governo Biden para um acordo de ajuda bilionária para as suas “falsas” pretensões de proteção à Amazônia.

 

 

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